A formalização da intenção de fusão entre Azul e Gol, controlada pelo grupo Abra, pode transformar o mercado de aviação no Brasil. Juntas, as empresas controlariam 60,3% do setor, operando seis de cada dez voos comerciais no país. A proposta, no entanto, levanta debates sobre os impactos no preço das passagens e na oferta de voos.
Especialistas alertam que a concentração de mercado pode aumentar os preços das passagens a longo prazo. Cleveland Prates, ex-conselheiro do Cade, destaca que o domínio dos slots (permissões de pouso e decolagem) em aeroportos estratégicos pode dificultar a entrada de novos concorrentes, favorecendo práticas predatórias, como a redução inicial de preços seguida por aumentos significativos.
Apesar disso, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, afirmou que o governo não permitirá aumentos tarifários em decorrência da fusão.
A Azul possui uma ampla capilaridade, atendendo 140 destinos, especialmente no interior do país, e operando aeronaves menores que podem acessar pistas regionais. A Gol, por outro lado, opera 64 destinos domésticos com foco em grandes aeroportos e utiliza exclusivamente Boeings 737. A fusão promete ampliar o alcance geográfico, mas analistas, como Alberto Valério, do UBS BB, alertam que pode ocorrer priorização de rotas mais lucrativas, reduzindo opções para consumidores em regiões menos rentáveis.
O Cade, responsável por avaliar a operação, tem até 240 dias (prorrogáveis por 90) para decidir entre aprovação total, aprovação com restrições (como venda de slots ou manutenção de voos em determinadas rotas) ou reprovação. Segundo Prates, a reprovação ocorre caso as perdas pela falta de concorrência superem os ganhos de eficiência.
Atualmente líder do mercado, a Latam, com 38,6% da participação, deve manter sua posição forte mesmo em um cenário de duopólio. Analistas apontam que a fusão entre Gol e Azul pode beneficiar a Latam devido à maior organização do setor, resultando em flexibilidade e rentabilidade aprimoradas.
A consolidação é comparada ao mercado americano, que possui seis empresas consolidadas, mas analistas enfatizam a necessidade de evitar cenários de monopólio, como o da Argentina no passado, que restringia rotas domésticas à estatal Aerolíneas Argentinas.
Fonte: Jornal O Globo